JOSÉ SARAMAGO E A IGREJA
Pouca gente sabe, mas José de Sousa Saramago foi o escritor português mais célebre na história recente. Ele ganhou o prêmio Camões de 1995, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa, e em 1998 foi coroado com o prêmio Nobel de Literatura. Ganhou muitos outros prêmios, mas também recebeu críticas e sofreu perseguições até mesmo da Igreja católica em pleno século XX.
Estávamos em Lisboa, o dia estava frio e ensolarado, muito próprio para caminhar, visitar monumentos históricos e conhecer um pouco do nosso passado, já que nossas raízes são portuguesas “com certeza”. Fomos então à fundação Casa dos Bicos onde uma exposição em celebração ao seu centenário de nascimento estava sendo exibida, e foi uma imersão na vida do autor de: Ensaio sobre a Cegueira, Ensaio sobre a Lucidez, Memorial do Convento, e o Evangelho segundo Jesus Cristo, entre outros títulos. Fizemos também uma parada sob o Carvalho centenário onde, a seu pedido, suas cinzas foram depositadas. Respeito à memória de um homem que contribuiu muito com sua geração.
Por mais irônico que possa parecer, Saramago era ateu, céptico, sarcástico, demolidor de mitos e irônico em suas narrativas, tanto na desmistificação da história convencional, como na censura dos desvios contemporâneos. Em uma entrevista concedida em fevereiro de 1994 ele disse o seguinte: “Se o homem não for capaz de organizar a economia mundial de forma a alimentar a humanidade, e esta vier a padecer fome, que humanidade é essa? Nós que enchemos a boca com a palavra humanidade, ainda não chegamos a isso, então não somos humanos, talvez cheguemos a sê-lo, mas falta muito. Vivemos ao lado de tudo que é negativo, como se não tivesse qualquer importância, a banalização do horror, da morte, da violência, sobretudo se isso acontece aos outros e não a nós…Enquanto a consciência das pessoas não despertar isso continuará.”
Confesso que isso me fez refletir. O que ele fala sobre a civilização, podemos aplicar ao microuniverso que é a Igreja, Nilópolis e Rio de Janeiro. Se tudo que acontece à nossa volta não nos diz respeito, o quê, de fato é importante para nós? Já pensamos nisso? O triste é que essa lição vem de um ateu, porque os crédulos não estão fazendo corretamente o dever de casa.
Pastor Levy de Abreu Vargas