Pense Nisso
Vai longe o tempo em que eu e minhas irmãs apostávamos corrida para ver quem chegava primeiro nos braços do nosso pai. Naquele tempo ele voltava do trabalho sempre no mesmo horário e nós ficávamos no portão aguardando. Quando víamos aquelas mãos levantadas no meio de outras pessoas, não tínhamos dúvidas, corríamos em disparada ao encontro dele. Essa rotina durou um tempo até que veio uma crise, ele perdeu o emprego, e não tínhamos mais que esperá-lo, pois ele já não saía de casa.
Mesmo em casa sua companhia era sempre agradável. Ora estava no quintal plantando, podando, colhendo e nos ensinado alguma coisa, ora estava na cozinha fazendo das suas e outras vezes saía simplesmente para dar uma volta, conversar com pessoas, espairecer, esquecer um pouco as dificuldades. Lembro-me dele sobre uma cama, não porque estava doente, mas porque gostava de contar histórias e à sua volta os filhos que não se cansavam de ouvi-las. Em síntese, ele foi “O CARA” de nossas vidas durante toda sua vida.
Hoje o Brasil celebra o Dia dos Pais e infelizmente nem todos podemos contar as mesmas histórias. Há PAIS e pais, costuma dizer minha esposa. Os primeiros são pais de verdade, pais que até não geraram, mas amaram, se deram e marcaram de forma positiva os seus rebentos, esses são pais com letras grandes, em caixa alta, destacados do conjunto, os outros são pais porque geraram ou apenas cumpriram o doloroso dever de alimentar, cuidar e educar os filhos, mas não sentem prazer nem alegria.
Meu pai partiu em 1987, era domingo, a família reuniu-se para o almoço do seu aniversário e quando todos já tinham saído, sentiu-se mal, foi levado ao Pronto Socorro e em dez minutos fez-se o óbito. No dia seguinte nos reunimos novamente para o sepultamento daquele que, mesmo não tendo muito, soube ser Pai de verdade.
Muito do que ele foi ficou comigo e passei aos meus filhos, que certamente passarão aos seus e assim por diante imortalizando suas boas ações. Não era perfeito, porque não há pais perfeitos, mas foi o melhor que pode com o que tinha e era. Isso aconteceu há quase sessenta anos e ainda hoje vivo sob a influência do seu legado, por isso quero lembrar aos pais de hoje que suas histórias estão sendo escritas e um dia serão lembradas, contadas … E reproduzidas.
Pastor Levy de Abreu Vargas